Por falta de registros específicos, é difícil precisar quando os primeiros imigrantes alemães, ou seja, do grande Império da Prússia - hoje com áreas pertencentes a vários países, tais como: a Polônia, Tchecoslováquia, etc. - chegaram à Costa da Serra. Isto porque nem sempre eles se fixaram em sua localidade de destino e migravam de forma independente, dentro e entre os estados brasileiros. Porém, de vez em quando, surgem dados comprobatórios, tais como: uma sepultura ainda legível. E por tratar-se de uma mulher, sabemos da impossibilidade desta morar sozinha em plena selva. Portanto, havia uma família. E pela proximidade da antiga Estrada dos Tropeiros, deduz-se que por esta rota vieram, antes de 1848. Não se sabe, no entanto, se da região de Santa Catarina ou de Rio Pardo. Menos provável ainda, porém não de todo impossível - já que mais tarde houve casos assim - poderiam ter vindo do Uruguai ou da Argentina.
Lápide de M. Katharina Melchior Heilmann
(*27-05-1785 †14-?-1848)
Cemitério Comunitário Welsch
Linha Passa Sete, Candelária, RS
Mas foi através da pesquisa de memória oral de antigos descendentes e de registros manuscritos em um velho caderno que tomei conhecimento do acesso, de maneira inusitada, de alguns Legionários de Guerra, antes integrados ao exército do Império Prussiano, contratados pelo Império Brasileiro para lutar nas fronteiras da Província contra Oribe e Rozas. Eram os brummers, vindos a este território em 1854, na parte que ainda pertencia ao Distrito de Santa Cruz. Da sede do município de Rio Pardo, subiram em pequenas embarcações pelo rio Pardo para se estabelecer às suas margens, na Colônia Riopardense de Antonio Borges. Acredita-se que estes tenham sido seus primeiros moradores alemães naquela região.
Eduard Zilch (*29-06-1825 †27-10-1911, nascido em Köpenik, Berlim, residiu na Linha do Rio Pardo), Karl Koppenhagen (*19-12-1821 †25-07-1908), nascido em Großborgen, Ermeland, Preussen, residiu na Linha Alta) e Christian Gottlieb Lenz (*24-01-1799 †20-01-1881, nascido na Prússia, residiu na Linha do Rio Pardo) são três dos Legionários de Guerra do Exército Prussiano contratados pelo Imperador Dom Pedro A foto, tirada em Porto Alegre, em 06-07-1901, ocorreu como forma de imortalizar a criação da Sociedade dos Legionários Alemães no Estado.
Sabe-se, porém, que tantos imigrantes vieram logo em seguida, que, em 1857, Antonio Borges já instalava alguns na outra margem do rio, chamando-a de Povoação Germânia. Entre eles, havia também pessoas de outras etnias, como os portugueses.
33 anos após a sua criação, a Povoação Germânia ostentava sólidas construções na sua parte mais antiga, onde hoje está o Rincão Comprido. A Rua do Comércio, no entanto, continuava tão precária como na época em que era apenas a Estrada dos Tropeiros.
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Na outra margem do rio Pardo, onde os primeiros brummers se instalaram, encontrei mais uma lápide solitária no meio da mata ciliar. Contaram-me os antigos moradores que o jovem teria morrido afogado no rio, ao tentar fazer a sua travessia em um ponto mais acima.
Lápide de Johann Fredrich Wilhelm Mündstock
(*13-02-1843 †07-10-1865)
Linha Passa Sete, Candelária, RS
Como parte das picadas na Colônia Riopardense - do Sul, do Facão, do Rio Pardo, do Herval e Alta - foi integrada ao Distrito da Costa da Serra, além de outros imigrantes esparramados entre as sesmarias de portugueses, terem forte vínculo religioso ao emergente evangelismo, surge à criação, em 1864, da Deutsche Evangelische Gemeinde Germânia, na pequena povoação, realizando os primeiros batismos através de pastores itinerantes.
Cerca de 10 km acima, da onde estão sepultados M. Katharina Melchior Heilmann e Johann Friedrich Wilhelm Mündstock, ainda na antiga Estrada dos Tropeiros, no Alto Passa Sete, estabeleceu-se, por volta de 1866, Maria Magdalena Schell Müller, viúva de Jacob Welsch - ele teria falecido em luta na Revolução Farroupilha. É provável que a área de terras, chamada de Rodeio da Figueira, tenha sido como forma de indenização à família.
Maria Magdalena Schell Müller (*11-01-1796 †24-11-1876)
Viúva de Jacob Welsch
Ainda em 1866, chega João Kochenborger com seus familiares ao Distrito da Costa da Serra. Natural de São Leopoldo, estabeleceu-se em uma área que antes pertencera a Redução Jesus-Maria (1633-1636). Entretanto, suas terras iam muito além, em parte do território que integrava o município de Cachoeira do Sul. A toda essa região passou a chamar de Colônia Germânia. Como comerciante de terras - sua principal ocupação por onde passava - foi o maior interessado na vinda de imigrantes, loteando a Colônia Germânia para sua colonização. E para atrair o interesse de novos colonos, junto aos poucos comerciantes da Povoação Germânia e outros muitos do interior do Distrito, empenharam-se na construção de um templo - projeto ousado para a época - e a elevação da povoação à categoria de Vila.
Foto atual da igreja da antiga Comunidade Evangélica Alemã Germânia, hoje Comunidade Evangélica Luterana Cristo
E assim, cerca de mil imigrantes, distribuídos entre 439 sobrenomes, vieram e viveram, ainda que alguns temporariamente, na minha pequena Candelária.
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