A Comunidade Sinodal de Candelária – RS foi criada
oficialmente em 1926. Seus membros eram oriundos da Comunidade Evangélica Alemã,
situada em frente à praça. A partir de 1905, cerca de 20 famílias passaram a
discordar de algumas decisões daquela comunidade, como, por exemplo, a não
filiação ao Sínodo que surgia com força na Europa e enviava pastores formados
para o restante do mundo. Vale ressaltar que, naquela época, a falta de
pastores graduados era grande e, por isso, as comunidades evangélicas, não
vinculadas ao Sínodo, aceitavam, para a função, pessoas com outra formação.
Assim, a
tensão foi se ampliando, ao ponto dessas famílias não participarem mais dos
ritos na igreja, tendo seus cultos na escola. E a gota d’água foi quando aquela
comunidade resolveu escolher para o cargo, vago com a morte do Pastor Gustavo
Frederico Natorp, o “pastor” Ludwig Bohn, oriundo de Santa Rosa – RS, onde
atuava como professor. Uma vez totalmente desvinculados da igreja-mãe, grande foi
o empenho daquelas famílias dissidentes em adquirir um terreno que se
localizava na Rua Mittendorf. Tendo ali já três pequenas casas germinadas,
começaram a reforma de uma, onde construíram uma torre, passando esta a ser a
igreja. As outras duas seriam destinadas à casa do pastor com sua família e à
escola.
Um detalhe que talvez convenha lembrar no histórico da
dissidência e formação da Comunidade Sinodal em Candelária - RS, é que aqueles pastores
formados, que atendiam à “Comunidade da Praça”, já vinham com idéias e tendências
de conquista e vínculo ao Sínodo Europeu. Prova disso, foi o Pastor Michael
Haetinger que preferiu se desvincular em 1891, filiando-se ao Sínodo, criando,
em 1892, o belo complexo complexo Pella
Bethânia, em Taquari – RS, que acolhia órfãos, inválidos e viúvas. Lá, dirigiu
aquela entidade até a sua morte, além de ser pastor itinerante. Outro pastor
que, talvez, viesse com a mesma finalidade, foi o Pastor Gustav Friedrich
Natorp, não fosse a tragédia pessoal que enfrentou em sua vida – e desconhecida
até hoje pela maioria dos candelarienses - e que transformou seu cotidiano.
O casal Maria e Ludwig Laveuve com suas filhas eram
franceses. Logo após a criação da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana
do Brasil em Candelária – RS, eles fundaram a primeira escola, onde atuaram
como professores, até 1933, na casa ao lado da igreja, na Rua Mittendorf. Ele
era também redator no jornal O Novo Tempo.
Tendo a formação para atuar também como pastor, Wilhelm
Schütze logo foi incumbido nessa função. Nascido em 25-02-1898 na Letônia,
chegou em Candelária – RS, em 1927, assumindo a pequena Comunidade Sinodal, a
direção da escola e o internato. Os anos que permaneceu em solo candelariense, dedicou-se
incansavelmente no desenvolvimento da comunidade assumida, o que trazia bons
reflexos de progresso ao município.
No entanto,
devido à guerra além-mar e ainda que nem fosse alemão, foi afastado da comunidade
e perseguido até a sua morte, mesmo sem indícios ou fatos que indicassem seu
envolvimento com o nazismo. Daquela época e de tudo que aconteceu, conclui-se
que várias foram as razões para o seu afastamento, desde “o delírio” de alguns
em assumir sua vaga, devido aos generosos recursos provindos de outros países
para a escola, até “a neurose em confirmar meras suspeitas”, baseadas em
relatos “ouvidos atrás das portas” por alguns alunos espiões, infiltrados no
educandário para vigiarem as ações e contatos diários do pastor. Ora, sabe-se
que em tempos turbulentos, onde o medo e o ódio foram alastrados e pairavam em
quase todos os lares e lugares, destinar crianças, cujo entendimento da
realidade é diferente, aliado às fantasias típicas da idade, é frágil, sem
sustentação e duvidoso. Além disso, todas as correspondências destinadas à
escola, aos alunos e ao pastor eram abertas no correio local, assim como todas
as que eram emitidas.
O fato é
que, mesmo após ser afastado e transferido a cidades de outros estados, como a
Bahia e Santa Catarina, os ataques e perseguições continuaram. Como declararam
alguns ex-alunos: Os rádios-amadores de
seus algozes eram a ferramenta para a contínua tortura do pastor, repassando
calúnias Brasil afora.
E assim, seu
destinou passou a ser trabalhar em outras funções, sendo a última a de mineiro.
De corpo sem preparo físico para esta função, o Pastor Wilhelm Schütze contraiu
pneumonia, doença que o levou a óbito. Faleceu no Hospital Evangélico do Rio de
Janeiro – RJ, em 10.04.1965. E nas memórias, escritas por sua segunda esposa, suas
últimas palavras teriam sido: “Acabou meu sofrimento. Ali vem Jesus!” E teria adormecido
tranquilo e sereno....
1938: Na aula de equitação, a aluna
Grechten Raikowsky montada no Dreister, em companhia do Prof. Joachim Fink.
Este professor ao ser deportado, passou a dar aulas na Polônia, casou-se em
plena guerra e teve um filho. Mas quis o destino que o exército alemão, após
derrotar a Polônia, que ele fosse integrado a SS. Muito ferido, baixou no
atendimento da Cruz Vermelha onde foi atendido pela Helene von Hasselblatt.
Mesmo sem ter condições de ir para nova batalha, foi convocado novamente pela
SS para o terrível confronto contra os russos no inverno de 1941. A partir dali,
sua esposa nunca mais soube notícias dele. Acredita-se que ele tenha sido preso
russos e enviado para a Sibéria, onde terminou seus dias em trabalhos forçados.
Vista dos animais - importados da Europa - no navio, fazendo a travessia até o porto de Rio Grande. Eles foram adquiridos para incrementar a parte da agropecuária no colégio e também como matrizes para fornecer animais melhorados aos colonos candelarienses. Veio um touro reprodutor e quatro vacas holandesas, além de um cavalo para serviços pesados, três ovelhas e três porcos de carne. Alfredo Reinaldo Ensslin e Alfonso Gewehr buscaram os animais no porto e os trouxeram até o colégio no início de 1935.
A única peça
que compunha o uniforme era apenas um boné ou uma boina que trazia a Cruz de
Malta na fronte. O desenho ilustrativo foi criado pelo aluno interno Walter
Matschulat, de São Paulo, que, anos mais tarde, se formou em engenharia e era
usado em folders de divulgação da
escola.
Mas os tempos difíceis e de conflitos
em uma Europa destruída chegaram também aqui. O medo de candelarienses que só
sabiam se comunicar em Língua Alemã – não por culpa deles, mas mais uma vez dos
governos que só os trouxe, porém esqueceu-se, durante quase um século, em
providenciar escolas com professores que ensinassem o Português – fez com que o
retrocesso fosse implantado. Colonos mudos impedidos de vender seus produtos e
se tentassem eram presos sem que pudessem se defender... Para piorar, alguns de
seus pertencesses mais valiosos, confiscados e repartidos como despojos...
E o belo complexo teve seus
professores estrangeiros devolvidos à Europa. O Pastor Wilhelm Schütze foi
preso várias vezes aqui, sob alegações, embora nunca fossem comprovadas e, por fim,
deportado do município em 1939. Incursões de “supervisores” entravam na escola,
traumatizando alunos que nunca esqueceram suas ameaças do tipo: “Se tu falares
alemão, vou cortar a tua língua”.
Mesmo sendo uma escola privada,
muitos alunos foram introduzidos sem qualquer custo aos pais, gerando crise
financeira que o colégio não conseguia arcar. Como consequência, houve o
fechamento da escola em 1946. E o complexo só não ardeu em chamas, porque
quando o então Prefeito Albino Lenz soube que um grupo marchava em direção da
escola, levando galões de gasolina para “meter fogo em tudo”, dirigiu-se
rapidamente e, na frente do portão, de braços abertos teria gritado, quando o
grupo avançou: “Daqui pra frente, só por cima do meu cadáver!”, acalmando os
fanáticos que teriam se contentado em apenas queimar as bíblias e hinários que
havia na igreja.
E assim, infelizmente, Candelária
perdeu sua primeira grande chance de alavancar seu definitivo progresso! Coisa
que raros municípios tiveram naquela época, em todo o Estado.
Com a venda do complexo educacional do Colégio Agrícola Sinodal para o Estado, nova área foi adquirida entre as ruas Thompsom Flores e 7 de Julho, onde foram construídas a casa paroquial, a Escola Rio Branco e a terceira igreja da comunidade. O templo, o último a ser construído, foi inauguro em 12/04/1953.
Em memória de Walter Martin Schütze, filho do Pastor Wilhelm Schütze.
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